quinta-feira, 19 de julho de 2012

MEU AVÕ


Aquela região de Campinas as ruas na época eram paralelepípedos, grandes pedras retangulares, alinhadas e fixadas em areia que ficavam escorregadias com a chuva e por onde os bondes circulavam pela cidade.Nossa casa ficava perto do bairro Vila Industrial, bairro separado pela linha férrea e com acesso através do pontilhão com escadarias em sua lateral para pedestres e por onde o bonde circulava com dificuldade e lentidão.Neste bairro existia m Quartel da Cavalaria onde todas as noites saiam a ronda policial que era feita por dupla de soldados com altos e imponentes cavalos, muito bem tratados e escovados que brilhavam ao passar. Estes cavaleiros passavam sempre defronte minha casa durante a noite, horário em que já estava deitado, mas era só escutar ao longe o ruído metálico das patas dos cavalos nas pedras do chão corria em direção a janela para vê-los passar. Adorava ver aqueles cavalos tão bonitos, montados por policias todo fardado em estilo, com grandes espadas reluzentes penduradas na lateral dos arreios de couro marrom com detalhes em prata.
Todas as noites este fato se repetia e num determinado dia tinha levantado para ver a passagem da cavalaria através das frestas da janela e ao me virar para voltar para a cama, com surpresa vi meu avô paterno José sentado na poltrona do canto da parede muito bem vestido em um terno cinza riscados em branco iluminado pela luz do corredor que ficava acessa e passava por um suporte de vidro que ficava na parte superior da alta porta de madeira. Sorrindo me perguntou se gostava de cavalos. Respondi que sim e que levantava todas as noites para ver os cavalos passarem e encerrou a conversa me mandando dormir que já era tarde. E assim foi feito.
Na manhã seguinte no horário da café comentei o fato com meus pais e fiquei surpreso de ver eles chorarem, não sabia o porque daquilo e fazia algum tempo que não via mais meu avô em casa.Perguntou minha mãe como ele estava vestido e respondi com terno cinza, riscado em branco, gravata clara como tinha visto na noite anterior. Nunca tinha visto meu pai chorar e comecei a chorar também pois não tinha noção do que estava acontecendo.Depois de um tempo entendi o porque aquele choro de meu pai , foi o terno que meu avô usou em seu velório do qual não participei por ser pequeno, mas sua visita a mim foi real e tenho esta imagem até hoje em minha mente por 60 anos.
Guardo com muito carinho seu anel e seu relógio em ouro que deixou para mim antes de falecer
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